domingo, 18 de novembro de 2012

Submundo


No Vale dos Mortos, onde as flores são crânios e a vida não ousa sequer suspirar, pois da morte são todos os suspiros e quem lá vive, morreu por um dia amar

Eis que rondam meu pobre coração

Assombrosas vozes que ribombam qual tormenta,
São as aves vindas dos pélagos d’escuridão
E que, meu medo de perder-te as alimenta.
Fugi nos sonhos aos vales da morte:
Lá tudo é frio e silencioso… lá tudo é som
bra!
Minh’alma se estupefa face a lúgubre Côrte,
Pisando nos crânios que de lá são a alfombra.
Aqui o tempo passa lento… vagaroso…
No vale dos mortos sentei a te esperar.
Nas sombras imagino teu vulto formoso,
E nelas vivo eu, morto por te amar!...

Nesse campo vazio todas as flores murcharam.

- Aqui sentado vejo passar todo o meu viver, -
Sequer chorar posso – todas as lágrimas secaram.
“Ah! Amor porque tu só me fazes sofrer?”
Cá nas sombras ouvi um canto triste, funéreo.
Era um anjo caído dizendo – “vai pranteia o amor.
Aqui entre as nênias desses mundo etéreo,
É só o que podes fazer… dou-te lágrimas. Chorai tua dor!”
E eu lívido dizia: “ó anjo, ó triste anjo caído!
Ajudai-me! Ajudai-me! Te imploro, por caridade.
Curai de uma vez este meu coração partido
E que outra vez eu sinta o que é a felicidade.”

O anjo se foi e no escuro outra vez eu fiquei,

Sequer seu triste canto eu escutava,
E horas e dias em pranto sozinho eu passei,
Cansado de tudo, nada mais da vida esperava…
“Mas espere! Que são aquelas horrendas figuras?
Parecem rebentos do seio vil do inferno…
Oh céus! São de fato, sombras, terríveis diabruras
Que cantam na amargura d’abandono eterno!”
Não podia eu crer naquilo tudo que via
- não era truque ou da mente ilusão.
Era um dantesco teatro que nas sombras s’erguia
Rompendo o silêncio desse mar d’escuridão!

Vi nas sombras, horrendos a dançar

Demônios vermelhos sorrindo,
E Satanás os vendo, também se ria a falar:
“Oh morte! Mas que balé lindo!’
E inda mais feliz dizia Satanás:
“Ah! Isso sim que é um balé,
Vejam os demônios e seu sorrir fugaz,
Até os esqueletos se agitam p’ra aplaudir de pé!”
Bailam, bailam as sombras mais uma vez,
As ossadas brancas estalam no frenético bailar.
Aqui a morte se ri valsando sem timidez,
Cantando vem mansa, p’ra seu abraço nos dar!

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