domingo, 18 de novembro de 2012
PEDRO IVO - ALVARES DE AZEVEDO
PEDRO IVO - ALVARES DE AZEVEDO
Tristes coroas, sob as quaes ás vezes
Está gravada uma inscripção d'infamia !
ALEXANDRE HERCULANO
Perdoai-lhe, Senhor! elle era um bravo !
Fazia as faces descorar do escravo
Quando ao sol da batalha a fronte erguia,
E o corsel gottejanle de suor
Entre sangue e cadáveres corria !
O gênio das pelejas parecia....
Perdoai-lhe, Senhor!
Onde mais vivo em peito mais valente
N'um coração mais livre o sangue ardente
Ao fervordesta America bulhava ?
Era ura leão sangrento que rugia :
Da guerra nos clarins se embriagava —
E vossa gente — pallida recuava
Quando elle apparecia!
Era filho do povo — o sangue ardente
Ás faces lhe assomava incandescente
Quando scismava do Brasil na sina....
Hontém — era o estrangeiro que zombava ,.
Amanhãa — era a lamina assassina,
No cadafalso a vil carnificina
Que em sangue jubilava!
Era medonho o rubro pesadello
Mas nas frontes venaes do gênio o sello.
Gravaria o anathema da historia !
Dos filhos da nação a rubra espada
No sangue impuro da facção inglória
Lavaria dos livres na victoria
A mancha profanada!
A fronte envolta em folhas de loureiro
Não a escondemos, não !... Era um guerreiro!
Despio por uma idéa a sua espada !
Alma cheia de fogo e mocidade,
Que ante a fúria dos reis não se acobarda
Sonhava nesta geração bastarda
Glorias.... e liberdade!
Tinha sede de vida e de futuro;
Da liberdade ao sol curvou-se puro
E beijou-lhe a bandeira sublimada:
Amou-a como a Deos, e mais que a vida
Perdão para essa fronte laureada !
Não lanceis á matilha ensangüentada
A águia nunca vencida!
Perdoai-lhe, Senhor! Quando na historia
Vedes os reis se coroar de gloria
Não é quando no sangue os thronos lavão
E envoltos no seu manto prostituto
Olvidão-se das glorias que sonhavão !
Para esses — maldição! que o leito cavão
Em lodaçal corrupto!
Nem sangue de Ratcliffs o fogo apaga
Que as frontes populares embriaga,
Nem do heróe a cabeça decepada
Immunda, envolta em pó, no chão da praça,
Contrahida, amarella, ensangüentada,
Assusta a multidão que ardente brada
E thronos despedaça!
O cadáver sem bênçãos, insepulto,
Lançado aos corvos do hervaçal inculto,
A fronte varonil do fuzilado
Ao somno imperial co'os lábios frios
Podem passar no escarneo desbotado —
Ensanguentar-te a seda ao cortinado
E rir-te aos calafrios !
Não escuteis essa facção ímpia
Que vos repete a sua rebeldia....
Como o verme no chão da tumba escura
Convulsa-se da treva no mysterio :
Como o vento do inferno em água impura
Com a bocca maldita vos murmura:
« Morra ! salvai o império !
Sim, o império salvai! mas não com sangue !
Vede — a pátria debruça o peito exangue
Onde essa turba corvejou , cevou-se !
Nas glorias, no passado elles cuspirão !
Vede — a pátria ao Bretão ajoelhou-se ,
Beijou-lhe os pés, no lodo mergulhou-se !
Elles a prostituirão!
Malditos ! do presente na ruína
Como torpe, despida Messalina
Aos apertos infames do estrangeiro
Traficão dessa mãi que os embalou !
Almas descridas do sonhar primeiro
Venderião o beijo derradeiro
Da virgem que os amou !
Perdoai-lhe, Senhor! nunca vencido,
Se em ferros o lançarão foi trahido!
Como o Árabe além no seu deserto
Como o cervo no páramo das relvas
Ninguém os trilhos lhe seguira ao perto
No murmúrio das selvas !
Perdão ! por vosso pai! que era valente,
Que se batia ao sol co'a face ardente,
Rei — e bravo também ! e cavalleiro!
Que da espada na guerra a luz sabia
E ao troar dos canhões entumescia
O peito de guerreiro!
Perdão, por vossa mãi! por vossa gloria !
Pelo vosso porvir e nossa historia!
Não mancheis vossos louros do futuro !
Nem lisongeiro incenso a nodoa exime !
Lava-se o polluir de um leito impuro —
Lava-se a pallidez do vicio escuro —
Mas não lava-se um crime !
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