terça-feira, 29 de janeiro de 2013

As Duas Escuridões


As Duas Escuridões

"A vida é um longo (ou curto) inervalo
entre duas escuridões distintas...
A primeira - inconciente - é temporária.
A segunda - indesejada - jamais finda!...
Contracenamos no intermezzo de uma peça de dois atos:
Saimos da sombra terna do ventre maternal
para danças no balé confuso que no gand finale nos lança
nas trevas perenes do leito sepulcral!"

Oh Lemures quae in Noctem Eris


Oh Lemures quae in Noctem Eris

"Lemures folgam na escuridão valsando...
Ébrios de sangue e morte,
com liras e bandolins, pela negra noite
seguem histéricos... cantando!
Cantando canções obscuras,
de glórias e vitórias ha muito esquecidas...
E em seus louros já não se reflete a luz,
e suas grinaldas trazem flores sem perfume
- apodrecidas!
Oh fantasmas translucidos
de lúcidos sonhos da doce amarga desilusão
- Bacantes qu'alma de Túlio em sangue mancharam,
de veneno encheram meu coração"

A VIOLETA (Castro Alves)


A VIOLETA (Castro Alves)

"A rosa vermelha
Semelha
Beleza de moça vaidosa, indiscreta.
As rosas são virgens
Que em doudas vertigens
Palpitam,
Se agitam
E murcham das salas na febre inquieta.

Mas ai! Quem não sonha num trêmulo anseio
Prendê-las no seio
Saudoso o Poeta.

Camélias fulgentes,
Nitentes,
Bem como o alabastro de estátua quieta...
Primor... Sem aroma!

Partida redoma!
Tesouro
Sem ouro!
Que valem sorrisos em boca indiscreta?

Perdida! Não sonha num tremulo anseio
Prender-te no seio
Saudoso o Poeta

Bem longe da festa
Modesta
Prodígios de aroma guardando discreta
Existe da sombra,
Na lânguida alfombra,
Medrosa,
Mimosa,
Dos anjos errantes a flor predileta

Silêncio! Consintam que em trêmulo anseio
Prendendo-a no seio
Suspire o Poeta.

Ó Filha dos ermos
Sem temos!
Ó casta, suave, serena Violeta
Tu és entre as flores
A flor dos amores
Que em magos
Afagos
Acalma os martírios de uma alma inquieta.

Por isso é que sonha num trêmulo anseio,
Prender-te no seio
Saudoso o Poeta!..."

Prólogo – Com a morte, o começo!


Prólogo – Com a morte, o começo!


"Sim… Já não posso sonhar..." Sussurrou Rodolfo. Seus olhos castanhos, melancólicos, fitavam o nada ao redor de seu quarto escuro. Seu rosto pálido estava lavado em lágrimas. Todo seu corpo tiritava como se uma corrente elétrica suavemente o percorresse... Seu coração doía. Uma dor tão cruciante qual mil facas perfurando-o. E então, o tremer de seu corpo parou. Ele de súbito ergue-se dizendo "quando já não se pode mais sonhar, é sinal de que a existência já não mais faz sentido!". Pulou da cama, vestiu a camisa, passou a mão nos cachos de seus cabelos emaranhados e saiu correndo do quarto, de casa.
Seus pensamentos voavam. As pessoas o olhavam enquanto andava, viam-no sem entender o por quê de um rapaz tão doce estar transtornado daquela forma. Na verdade, Rodolfo mascarava todo o seu sofrer, era incapaz de externar aquilo que sentia aos demais. Chegando a um viaduto Rodolfo parou. Ali, no beiral olhou para baixo e viu o correr incessante dos automóveis. Respirou. Olhou para o firmamento e subiu no beiral. Ali estancou, qual lívida estátua de mármore, viu todas as suas lembranças passarem diante de si e então, lançou-se para a eternidade...