domingo, 25 de novembro de 2012

Só...

ALONE / Só

Desde a infância eu tenho sido
Diferente d'outros – tenho visto
D'outro modo – minhas paixões
Tinham uma outra fonte e
Minhas mágoas outra origem -
No mesmo tom não despertava
O meu coração para a alegria -
O que amei – eu amei só.
Então – na infância – a aurora
Da vida atormentada – estava
Em cada nicho de bem e mal
O mistério que me prendia -
Da correnteza, da fonte -
Da escarpas rubras do monte -
Do sol que me rodeava
Em pleno outono dourado -
Do relâmpago nos céus
Quando sobre mim passava -
Do trovão, da tormenta -
E a nuvem tem a forma
(Quando o resto do céu é azul)
D'um demônio aos meus olhos.
.
Edgar Allan Poe

Annabel Lee


Annabel Lee

Foi há muitos e muitos anos já,

Num reino ao pé do mar.
Como sabeis todos, vivia lá
Aquela que eu soube amar;
E vivia sem outro pensamento
Que amar-me e eu a adorar.
Eu era criança e ela era criança,
Neste reino ao pé do mar;
Mas o nosso amor era mais que amor --
O meu e o dela a amar;
Um amor que os anjos do céu vieram
a ambos nós invejar.
E foi esta a razão por que, há muitos anos,
Neste reino ao pé do mar,
Um vento saiu duma nuvem, gelando
A linda que eu soube amar;
E o seu parente fidalgo veio
De longe a me a tirar,
Para a fechar num sepulcro
Neste reino ao pé do mar.
E os anjos, menos felizes no céu,
Ainda a nos invejar...
Sim, foi essa a razão (como sabem todos,
Neste reino ao pé do mar)
Que o vento saiu da nuvem de noite
Gelando e matando a que eu soube amar.
Mas o nosso amor era mais que o amor
De muitos mais velhos a amar,
De muitos de mais meditar,
E nem os anjos do céu lá em cima,
Nem demônios debaixo do mar
Poderão separar a minha alma da alma
Da linda que eu soube amar.
Porque os luares tristonhos só me trazem sonhos
Da linda que eu soube amar;
E as estrelas nos ares só me lembram olhares
Da linda que eu soube amar;
E assim 'stou deitado toda a noite ao lado
Do meu anjo, meu anjo, meu sonho e meu fado,
No sepulcro ao pé do mar,
Ao pé do murmúrio do mar.

Edgar Allan Poe

Santa Maria - Edgar Allan Poe


Santa Maria! Volve o teu olhar tão belo,
de lá dos altos céus, do teu trono sagrado,
para a prece fervente e para o amor singelo
que te oferta, da terra, o filho do pecado.

Se é manhã, meio-dia, ou sombrio poente,

meu hino em teu louvor tens ouvido, Maria!
Sê, pois, comigo, ó Mãe de Deus, eternamente,
quer no bem ou no mal, na dor ou na alegria!

No tempo que passou veloz, brilhante, 

quando nunca nuvem qualquer meu céu escureceu,
temeste que me fosse a inconstância empolgando
e guiaste minha alma a ti, para o que é teu.

Hoje, que o temporal do Destino ao Passado

e sobre o meu Presente espessas sombras lança,
fulgure ao menos meu Futuro, iluminado
por ti, pelo que é teu, na mais doce esperança.

Edgar Allan Poe

Soneto

Oh tragédia! Que dor infernal!

Como sofro e me contorço…
São mil facas que me perfuram,
Já sinto no peito o suspiro final!
Minhas flores… minhas lindas flores feneceram,
Os meus dias passam pálidos…
Pálidos como meus sonhos –
Eles também morreram!...
Sou triste como a noite sem luar.
Minha vida se esvai das veias
Como da ampulheta as areias…
Morro! Morro sem nada da vida deixar…

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O CORVO (de Edgar Allan Poe)


        O CORVO 
        (de Edgar Allan Poe)
        Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
        Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
        E já quase adormecia, ouvi o que parecia
        O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
        "Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
        É só isto, e nada mais."

        Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
        E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
        Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
        P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
        Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
        Mas sem nome aqui jamais!

        Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
        Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
        Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
        "É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
        Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
        É só isto, e nada mais".

        E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
        "Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais;
        Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
        Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
        Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
        Noite, noite e nada mais.

        A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
        Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
        Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
        E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
        Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
        Isso só e nada mais.

        Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
        Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
        "Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
        Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais."
        Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
        "É o vento, e nada mais."

        Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
        Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
        Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
        Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
        Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
        Foi, pousou, e nada mais.

        E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
        Com o solene decoro de seus ares rituais.
        "Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
        Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
        Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
        Disse o corvo, "Nunca mais".

        Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
        Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
        Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
        Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
        Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
        Com o nome "Nunca mais".

        Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
        Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
        Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
        Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos - mortais
        Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais".
        Disse o corvo, "Nunca mais".

        A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
        "Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais,
        Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
        Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
        E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
        Era este "Nunca mais".

        Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
        Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
        E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
        Que qu'ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,
        Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
        Com aquele "Nunca mais".

        Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
        À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
        Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
        No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
        Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,
        Reclinar-se-á nunca mais!

        Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
        Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
        "Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
        O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
        O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"
        Disse o corvo, "Nunca mais".

        "Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
        Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
        A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
        A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais
        Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
        Disse o corvo, "Nunca mais".

        "Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
        Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
        Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
        Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
        Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"
        Disse o corvo, "Nunca mais".

        "Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!
        Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
        Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
        Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
        Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
        Disse o corvo, "Nunca mais".

        E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
        No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
        Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
        E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
        Libertar-se-á... nunca mais!

O Mundo acabou e não fomos avisados...
Gritos calados, pulsos cerrado. Lutar pra que?
Sinto falta do outono e das folhas no pátio.
Mas tudo se foi com as águas de março,
 a chuva que lavou a pele capaz não foi de lavar o coração,
 fria solidão, apenas cais, nada mais, além-mar, apenas mais,
 apenas às, sempre à beira de algum lugar.
Feridas que gritam à corvos alados,
 implorando um fim para esse teatro,
 esse papel de uma pura verdade tão falsa quanto a promessa de um céu!

domingo, 18 de novembro de 2012

A Morte do Amor


A Morte do Amor

“Ainda que eu falasse as líguas dos homens

E dos anjos, sem amor nada seria…” I Cor, 13, 1-2.

Hoje cedo, por um breve instante

Vi uma hórrida cena que causou-me medo…
Tive a fatídica impressão (ou certeza?!) –
Que com fria vileza a humanidade – sem dó nem piedade –
De todos os bons sentimentos havia já se despedido!...
- Para os amores – já não há flores,
- Para os corações – só restam aflições,
Trevas e podridão!!!
Como nesse cenário de horrores poderá viver
Meu tão frágil coração?

Submundo


No Vale dos Mortos, onde as flores são crânios e a vida não ousa sequer suspirar, pois da morte são todos os suspiros e quem lá vive, morreu por um dia amar

Eis que rondam meu pobre coração

Assombrosas vozes que ribombam qual tormenta,
São as aves vindas dos pélagos d’escuridão
E que, meu medo de perder-te as alimenta.
Fugi nos sonhos aos vales da morte:
Lá tudo é frio e silencioso… lá tudo é som
bra!
Minh’alma se estupefa face a lúgubre Côrte,
Pisando nos crânios que de lá são a alfombra.
Aqui o tempo passa lento… vagaroso…
No vale dos mortos sentei a te esperar.
Nas sombras imagino teu vulto formoso,
E nelas vivo eu, morto por te amar!...

Nesse campo vazio todas as flores murcharam.

- Aqui sentado vejo passar todo o meu viver, -
Sequer chorar posso – todas as lágrimas secaram.
“Ah! Amor porque tu só me fazes sofrer?”
Cá nas sombras ouvi um canto triste, funéreo.
Era um anjo caído dizendo – “vai pranteia o amor.
Aqui entre as nênias desses mundo etéreo,
É só o que podes fazer… dou-te lágrimas. Chorai tua dor!”
E eu lívido dizia: “ó anjo, ó triste anjo caído!
Ajudai-me! Ajudai-me! Te imploro, por caridade.
Curai de uma vez este meu coração partido
E que outra vez eu sinta o que é a felicidade.”

O anjo se foi e no escuro outra vez eu fiquei,

Sequer seu triste canto eu escutava,
E horas e dias em pranto sozinho eu passei,
Cansado de tudo, nada mais da vida esperava…
“Mas espere! Que são aquelas horrendas figuras?
Parecem rebentos do seio vil do inferno…
Oh céus! São de fato, sombras, terríveis diabruras
Que cantam na amargura d’abandono eterno!”
Não podia eu crer naquilo tudo que via
- não era truque ou da mente ilusão.
Era um dantesco teatro que nas sombras s’erguia
Rompendo o silêncio desse mar d’escuridão!

Vi nas sombras, horrendos a dançar

Demônios vermelhos sorrindo,
E Satanás os vendo, também se ria a falar:
“Oh morte! Mas que balé lindo!’
E inda mais feliz dizia Satanás:
“Ah! Isso sim que é um balé,
Vejam os demônios e seu sorrir fugaz,
Até os esqueletos se agitam p’ra aplaudir de pé!”
Bailam, bailam as sombras mais uma vez,
As ossadas brancas estalam no frenético bailar.
Aqui a morte se ri valsando sem timidez,
Cantando vem mansa, p’ra seu abraço nos dar!

Soneto


Soneto

Com rubras lágrimas eu manchei

As rotas páginas de meu diário.
Por longas tardes caminhei
Entre as lápides do campanário.
Ah! Como ali tanto eu quisera
Que tudo isso enfim terminasse,
Que sob o sol da primavera
P’ra mim a morte chegasse…
Que a morte viesse cantando
Os versos de amor daquele poema lindo
E p’ra ela feliz eu iria acenando
- à morte me entregaria sorrindo!

PEDRO IVO - ALVARES DE AZEVEDO


PEDRO IVO - ALVARES DE AZEVEDO

Tristes coroas, sob as quaes ás vezes

Está gravada uma inscripção d'infamia !
ALEXANDRE HERCULANO

Perdoai-lhe, Senhor! elle era um bravo !

Fazia as faces descorar do escravo
Quando ao sol da batalha a fronte erguia,
E o corsel gottejanle de suor
Entre sangue e cadáveres corria !
O gênio das pelejas parecia....
Perdoai-lhe, Senhor!

Onde mais vivo em peito mais valente

N'um coração mais livre o sangue ardente
Ao fervordesta America bulhava ?
Era ura leão sangrento que rugia :
Da guerra nos clarins se embriagava —
E vossa gente — pallida recuava
Quando elle apparecia!

Era filho do povo — o sangue ardente

Ás faces lhe assomava incandescente
Quando scismava do Brasil na sina....
Hontém — era o estrangeiro que zombava ,.
Amanhãa — era a lamina assassina,
No cadafalso a vil carnificina
Que em sangue jubilava!

Era medonho o rubro pesadello

Mas nas frontes venaes do gênio o sello.
Gravaria o anathema da historia !
Dos filhos da nação a rubra espada
No sangue impuro da facção inglória
Lavaria dos livres na victoria
A mancha profanada!

A fronte envolta em folhas de loureiro

Não a escondemos, não !... Era um guerreiro!
Despio por uma idéa a sua espada !
Alma cheia de fogo e mocidade,
Que ante a fúria dos reis não se acobarda
Sonhava nesta geração bastarda
Glorias.... e liberdade!

Tinha sede de vida e de futuro;

Da liberdade ao sol curvou-se puro
E beijou-lhe a bandeira sublimada:
Amou-a como a Deos, e mais que a vida
Perdão para essa fronte laureada !
Não lanceis á matilha ensangüentada
A águia nunca vencida!

Perdoai-lhe, Senhor! Quando na historia

Vedes os reis se coroar de gloria
Não é quando no sangue os thronos lavão
E envoltos no seu manto prostituto
Olvidão-se das glorias que sonhavão !
Para esses — maldição! que o leito cavão
Em lodaçal corrupto!

Nem sangue de Ratcliffs o fogo apaga

Que as frontes populares embriaga,
Nem do heróe a cabeça decepada
Immunda, envolta em pó, no chão da praça,
Contrahida, amarella, ensangüentada,
Assusta a multidão que ardente brada
E thronos despedaça!

O cadáver sem bênçãos, insepulto,

Lançado aos corvos do hervaçal inculto,
A fronte varonil do fuzilado
Ao somno imperial co'os lábios frios
Podem passar no escarneo desbotado —
Ensanguentar-te a seda ao cortinado
E rir-te aos calafrios !

Não escuteis essa facção ímpia

Que vos repete a sua rebeldia....
Como o verme no chão da tumba escura
Convulsa-se da treva no mysterio :
Como o vento do inferno em água impura
Com a bocca maldita vos murmura:
« Morra ! salvai o império !

Sim, o império salvai! mas não com sangue !

Vede — a pátria debruça o peito exangue
Onde essa turba corvejou , cevou-se !
Nas glorias, no passado elles cuspirão !
Vede — a pátria ao Bretão ajoelhou-se ,
Beijou-lhe os pés, no lodo mergulhou-se !
Elles a prostituirão!

Malditos ! do presente na ruína

Como torpe, despida Messalina
Aos apertos infames do estrangeiro
Traficão dessa mãi que os embalou !
Almas descridas do sonhar primeiro
Venderião o beijo derradeiro
Da virgem que os amou !

Perdoai-lhe, Senhor! nunca vencido,

Se em ferros o lançarão foi trahido!
Como o Árabe além no seu deserto
Como o cervo no páramo das relvas
Ninguém os trilhos lhe seguira ao perto
No murmúrio das selvas !

Perdão ! por vosso pai! que era valente,

Que se batia ao sol co'a face ardente,
Rei — e bravo também ! e cavalleiro!
Que da espada na guerra a luz sabia
E ao troar dos canhões entumescia
O peito de guerreiro!

Perdão, por vossa mãi! por vossa gloria !

Pelo vosso porvir e nossa historia!
Não mancheis vossos louros do futuro !
Nem lisongeiro incenso a nodoa exime !
Lava-se o polluir de um leito impuro —
Lava-se a pallidez do vicio escuro —
Mas não lava-se um crime !

O pecado (Íncubus et Sucubus)




O pecado (Íncubus et Sucubus)

Era noite… no lúgubre mausoléus ais e gemidos
Ecoavam, e as sombras absortas sussurravam:
- Ai! Que são demônios fazendo o pecado nefando!
N’alcova úmida de sangue e suor – lascivos
Eramos nós – tu, meu íncubo – eu, teu súcubo
- e ébrios de vinho e pecado íamos nos amando.

A lua nos sorria com libertino brilho encarnado,
E ali, nas trevas eramos nós dois um só!
Nossos corpos tão ardentes quanto o inferno,
E a cada beijo, a cada afago, a blasfêmia: ah! Doce pecado!
Ah! Sim! Minha carne em tua carne!
Fomos assim, consumidos no fogo do prazer eterno!