quarta-feira, 13 de março de 2013

A Rainha do Gelo


A Rainha do Gelo (ou A Dama Encantada da Turingia) – de os contos fantásticos
-Francisco de Paula-

Prólogo


“Ludmila, Ludmila! Onde você está?” gritava uma menininha muito branca pobremente vestida. Era uma manhã fria na Turingia, no auge do inverno alemão ela morreria caso não procurasse logo abrigo. Estava assustada. Havia se perdido de sua irmã mais velha quando esta pediu que esperasse junto uma velha ponte construída pelos romanos há séculos. As horas passaram e ela não voltou. Então a pequena Anne resolveu sair à procura da irmã, mas em meio a neve não conseguiu achar o caminho de volta.

“está frio... seria tão bom estar em casa junto à lareira brincando com a Francizsca.”
Distraída a menina sequer notou que andava sobre um lago congelado. Não notou também que onde pisava o gelo estava frágil, tão frágil que se quebrou fazendo a pequena cair nas águas gélidas.
“Socorro! Socorro!” gritava ela em vão. Ninguém ouviria ou viria salvá-la. A morte parecia certa quando algo estranho aconteceu. O vento começou a carregar os flocos de neve de uma forma diferente. Parecia dançar em torno do lugar onde Anne havia caído.

Capitulo 1


Turingia, junho de 1699.

Entre as sombras da noite uma fila de luzes seguia floresta adentro. Eram tochas. Vozes rompiam o silêncio. Pareciam inquietas... Furiosas.
“Achem a bruxa! Queimem-na!” esse era o brado da multidão de camponeses que caçavam a bruxa, como lobos sedentos por sangue. Após certo tempo caminhando por entre as trevas da floresta negra, aqueles homens, mulheres, pais, mães, irmãos etc, chegaram a um lago que ficava no meio de uma clareira iluminada pela luz da lua cheia. E la estava ela, a “bruxa” sentada num barquinho no meio do lago.
Todos ficaram estupefatos, catatônicos, silenciosos atrás dos arbustos. Dentro do barco, vestida de branco, não se parecia em nada com o que imaginavam que fosse. Sequer era velha ou feia. Não, feia não era mesmo. Sua longa cabeleira negra contrastava com a pele tão alva quanto a lua naquela noite de verão. Silueta esguia e jovial. Cantava numa lingua há muito esquecida por aquele povo. A voz era doce qual as falas dos anjos. Os gestos graciosos como as flores que trazia nos cabelos. Parecia mais uma fada!
“tem certeza que essa é mesmo a bruxa?” indagou Albert ao pai que era quem liderava aqueles ‘caçadores de bruxas’.
“ora Albert, quem mais estaria sozinha a essa hora no meio da floresta negra? Veja como ela canta para o demônio. Maldita!”
Passados alguns instantes ele gritou “adiante! Vamos dar a essa filha de Satã o que ela merece!”
E todos se lançaram para capturar a jovem feiticeira. Esta percebendo que estava cercada não tentou fugir.
“viemos por fim as suas maldades... não vais mais levar nenhuma das nossas crianças.” Falou Ludwig, pai de Albert.
Ela pareceu confusa por um instante. Seus olhos azuis buscavam uma resposta para aquilo. Mirou nas tochas acesas que todos empunhavam depois nos semblantes que a encaravam.
“pensam que acaso seja eu uma bruxa?!” indagou ela continuando. “crianças?! Não sei do que vocês falam. Vivo sozinha na floresta...” Ela pareceu querer falar algo mais, porém hesitou. Parecia muito assustada.
“mentirosa! Vejam como ela mente, peguem-na... vamos queimá-la!”
O cerco ia se fechando. Os aldeões cercavam-na, ela aturdida olhava para todos os lados. Parecia não saber realmente o que fazer. Os camponeses sabendo que o lago não era profundo começaram a entrar n’água, quando tudo parecia perdido para a “bruxa”, esta se jogou do barco nas águas escuras do lago que no mesmo instante começou a congelar a partir do ponto onde ela mergulhou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário